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Luto animal: Como podemos lidar com o processo da perda do pet?

O luto animal causa uma profusa gama de sentimentos, como medo, angústia, perda do apetite – ou excesso dele, irritabilidade, ansiedade e, sobretudo, a sensação de enfrentar um vazio causado pela perda do nosso melhor amigo, companheiro de todas as horas.

Essas sensações, que também são sentidas quando perdemos um ente querido, também se manifestam no momento em que nós nos preparamos para o momento inevitável em que o nosso pet se despede de nós, sobretudo hoje, quando são considerados também como membros da nossa família.

A maior justificativa para isso está relacionada com um fator simples e, ao mesmo tempo, difícil de encarar.

Nossos pets já fazem parte das nossas famílias e preenchem nossas casas e nossa rotina com cuidados, atenção e carinho, tal qual dedicamos às pessoas que amamos, como nossos pais e irmãos.

Além disso, a resposta emocional que o pet proporciona – como prazer e bem-estar – deixam, de forma abrupta, muitas vezes, de serem sentidas.

E isso acaba por nos causar complicações na forma como a nossa casa e a nossa família se comporta.

Afinal, sabemos bem, quais são as tamanhas adaptações pelas quais temos de passar no momento em que recebemos nosso pet. Seja um cachorro, um gatinho ou qualquer outro animal, nossa vida passa a fazer sentido por meio dessa nova vida.

E, quando essa vida simplesmente deixa de existir, temos de encarar, além do luto animal, todas as readaptações que temos de fazer para voltarmos à vida sem ela.

O que é o luto animal? Como podemos encarar esse momento?

Luto animal se refere ao processo que se segue ao momento da perda de um pet, que acaba por se tornar um membro da nossa família.

Tal qual no processo de luto pelo qual passamos quando um ente querido e humano se despede, o luto animal tem as suas próprias fases e nem sempre é fácil de se viver, sobretudo quando há um vínculo amoroso e afetivo que se distancia da relação entre animal e humano.

Ou seja: quanto mais afetiva é a relação com o nosso pet, maior tende a ser a onda de enfrentamento que viveremos quando ele se despedir de nós, afinal, maior será o vínculo de amor, de cuidado, de carinho.

Passar por esse momento difícil pode requerer ajuda profissional quando, por nossos meios, não conseguimos nos adaptar para seguirmos com nossas vidas, compromissos, atividades sociais e demandas até mesmo profissionais.

Dessa forma, a ajuda psicológica especializada em luto animal vem se tornando cada vez mais popular no Brasil, que, atualmente, conta com quase 140 milhões de pets em lares de todas as classes sociais, de acordo com dados do último Censo Pet, ocorrido em 2019 – e que teve um aumento de 30% ao longo da pandemia causada pelo novo Coronavírus.

Como forma de enfrentamento ao luto animal, existem também diferentes correntes psicológicas que defendem desde guardar um item que lembre o pet – como roupa, brinquedo, comedouro ou cobertores – até mesmo fazer doações para entidades voltadas para o cuidado e proteção animal.

Tal qual como ocorre entre seres humanos, nossos entes queridos, no entanto, não existe uma receita ou um passo a passo a ser seguido, sobretudo porque os mecanismos de enfrentamento são muito específicos e próprios de cada indivíduo, da sua cultura e até mesmo da forma como o animal se colocava em nossas vidas.

Seja de uma forma, seja de outra, a dor da perda acaba por se manifestar.

Fases do luto: Viver o processo da perda é fundamental para a saúde emocional e mental dos tutores

Não dá para imaginar, simplesmente, a mera substituição do animal que partiu ou, até mesmo, retornar às atividades cotidianas como se nada tivesse ocorrido em nossos lares.

Isso porque, ainda que sejam vidas naturalmente mais breves do que a nossa, humana – na maior parte das vezes, vale lembrar -, estamos ainda tratando de um ser de companhia que modifica a nossa vida em suas mais profundas estruturas.

As fases do luto animal acabam por ser muito particulares, sobretudo porque dependem da forma como o pet se despede.

Existem aqueles que lutam contra complicações de saúde por boa parte da vida e aqueles que acabam por sofrer acidentes ou, simplesmente, desaparecerem.

A forma da despedida acaba por impactar, também, na maneira como nós, os tutores, acabamos por vivenciar a perda, sobretudo porque encontramos nos nossos pets uma estrutura profunda e emocional que deixa de existir, muitas vezes de forma abrupta.

Dessa maneira, a experiência do luto acaba por atravessar a forma como perdemos esse ponto de equilíbrio tão importante para as nossas vidas.

Seja de uma forma, seja de outra, nossos mecanismos de enfrentamento não são os mesmos e variam até mesmo dentro dos nossos próprios lares.

Assim, é importante que todos aqueles que conviviam e tutoravam o pet possam manifestar suas próprias angústias e ter momentos de vivência particular em relação à despedida.

Unificar a forma de viver o luto animal pode causar bastante complicação, sobretudo porque alguns podem precisar de mais ou menos tempo para o momento da despedida.

O que fazer com o que fica?

Roupinhas, brinquedos, medicamentos, alimentos, petiscos… quando um pet nos deixa, ele deixa também parte de si conosco, que vai muito além das lembranças.

Há quem prefira agir de forma mais prática em relação aos itens que eram de uso do pet, enquanto existem outras pessoas que precisarão de mais tempo para lidar com a perda do animal.

Vale, dessa forma, para os dois casos, colocar os itens dentro de uma caixa e aguardar uns dias até saber o que fazer ao certo, sobretudo porque os itens de uso do animal podem ser muito úteis como recordações, como formas de amenizar o sentimento de saudade que iremos encontrar ao longo da nossa vida.

Por conta disso, evite tomar decisões de forma muito rápida, ainda que elas pareçam ser as mais acertadas no momento da dor.

Conduza seus dias, primeiramente, de forma mais livre para chorar se assim tiver vontade, para observar os itens deixados pelo animal, se isso te deixar mais tranquilo.

Lembre-se que o luto sempre tem as suas próprias regras e iremos sentir medo, revolta, tristeza, poderemos entrar em negação e não é raro, também, sentirmos culpa.

Nessas horas, observar as fotos, os momentos de alegria e os outros registros da vida do animal podem fazer com que nos sintamos mais seguros de que proporcionamos muito mais do que uma vida boa para o pet, mas, sobretudo, uma vida cheia de amor, de cuidado, de carinho.

E, conforme o tempo avançar, poderemos pensar novamente em um outro companheiro.

Não para suprir a falta, mas porque nosso coração é sempre gigantesco para recebermos uma nova vida em nossos lares, para a qual teremos, até mesmo em memória do pet que se foi, todo o amor do mundo.

Palavra da redação:

Eu, Mady, redatora aqui da Bondu, nunca vivi um único dia da minha vida sem ser tutora de um cachorro. Ao longo dos meus 34 anos de vida, tive meus dias, todinhos, acompanhados por um peludo.

Lembro como se fosse hoje do dia em que meu telefone tocou. Era a minha mãe, falando que meu lindo Roberto, o Bob, estava muito mal. Foram 22 anos de vida. Uma longa e linda vida. Nem hesitei. Fui até o aeroporto e embarquei no primeiro voo entre o Rio e Curitiba. Cheguei ainda em tempo para viver com ele os últimos instantes da sua vida.

Até hoje sonho com meu vira-latas caramelo, com uma moldura no rostinho, que lembrava um M. Um M de Madelaine.

Lembro também do dia em que o Eduardo se despediu. E do dia que a Maria, minha codorna, também precisou dar adeus. Do dia em que cada uma das seis ratinhas que dividi com meu marido também se foram.

Todas essas lembranças fazem parte do que eu sou e todas elas fazem parte de tutorar um pet. Nós, enquanto tutores, não somos donos de uma vida. Somos meros acompanhantes, assistentes, tão companheiros quanto eles nos são.

A partida, nesse caso, me soa muito mais como um último gesto de gratidão, deles e nossa. Eles, que dedicam todo amor do mundo a nós, sempre existirão em nós enquanto forem lembrados e essas lembranças, com o tempo, sempre fazem com que um sorriso me surja, sobretudo porque a vida de cada um dos meus pets sempre foi sobre me encher de amor e de sorrisos.

Em breve o Frederico, meu cachorrinho, irá completar oito anos. O Frederico – que a sua vida seja sempre muito longa! – trilha esse mesmo caminho de amor. Nunca de substituição, mas sempre do amor que os meus outros pets despertaram em mim e hoje se multiplica nele.

E, no fim da conta, tudo é sobre esse mesmo amor, e sobre a saudade que reforça essa esperança de que eles sempre fiquem um pouquinho mais conosco. Nem que seja em forma de lembrança.

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